Conta a Parábola da Ratoeira que um rato, certo dia, estava passeando pela fazenda onde morava, quando viu uma ratoeira armada no celeiro. Preocupado com os outros animais da fazenda, saiu a espalhar a notícia. A galinha, primeira a ser abordada, foi logo dizendo: “Amigo rato, o que eu tenho a ver com isso? Isso não me aflige; porém, se lhe acontecer algo, rezarei uma missa por sua alma”. A mesma postura teve o porco. Quando avisado da ratoeira, riu e disse: “Caro amigo rato, você acha que isto é problema meu? Já viu algum porco preso numa ratoeira? E revolveu-se na lama a rir da preocupação do rato. A vaca, mais atenciosa, quando procurada pelo rato, até fingiu preocupação, mas logo que este se afastou, ela disse: “Coitado do rato, será que ele acha que uma ratoeira me causa algum perigo?” E continuou a ruminar tranquilamente.
Nessa noite todos acordaram com um baque alto. A ratoeira havia disparado. A mulher do fazendeiro, primeira a chegar ao local, no escuro, não notou que a ratoeira havia prendido o rabo de uma cobra venenosa e, ao chegar mais perto, foi picada. Muito doente e com febre alta, devido ao veneno, nada conseguia comer. O fazendeiro decidiu que uma boa canja ajudaria a alimentar a mulher, e então mandou matar a galinha.
Como a mulher permanecia doente, seus filhos vieram da cidade para assisti-la. Então o fazendeiro teve que sacrificar o porco para alimentá-los. Não tendo como ser curada, a mulher piorou de saúde e acabou morrendo. Veio então todo o povo das redondezas para o velório. O fazendeiro resolveu matar a vaca para servir um churrasco depois do funeral.
Moral da estória: na próxima vez que alguém estiver diante de um problema e você acreditar que o mesmo não lhe diz respeito, lembre-se: quando há uma “ratoeira” no terraço, todos correm perigo! Quando estamos na mesma “fazenda”, o problema de um deve ser de todos!
Para quem essa fábula serviria de lição?
Para as pessoas que não esboçam nenhum sentimento diante da violência urbana. Para aqueles que observam passivamente o aumento da criminalidade, o desrespeito às leis e a opressão do forte contra o fraco, mas nada dizem, nem mesmo oram a respeito. Para os que veem a vida ser banalizada e os frágeis serem imolados, mas não se importam. Para aqueles que defendem bandidos condenados como se fossem heróis. Para juízes que torcem o Direito e nem coram de vergonha. Para todos os que veem os que enriqueceram com a corrupção e só lamentam não terem participado do bolo.
E por que, na maioria das vezes, não nos importamos com o que acontece à nossa volta? Talvez porque a maioria dessas coisas aconteça fora do nosso campo de interesse imediato, é bem provável que as vejamos como mero espetáculo midiático. Talvez pelo simples fato de aparentemente nada terem a ver com isso, ao menos de um modo direto, alguns no máximo se sintam chocados e confusos. Outros, descrentes de quaisquer possibilidades de mudanças no mundo e sem nenhuma confiança no futuro, talvez apenas digam: O que eu tenho a ver com isso?
Quanto mais o mundo encolhe e se transforma numa “aldeia global”, por causa dos avanços na comunicação, mais fácil fica ver de tudo um pouco, sem precisar ir muito longe.
Basta ver o seu ambiente. Muitos deixam de se importar com alguma coisa errada, sem nada fazer para mudar, só porque parece não lhes dizer respeito. E dentro de suas próprias casas, não poucos deixam de somar na busca de melhorias, apenas porque é obrigação de outro. E nas comunidades, há os que deixam de interagir, de buscar mudanças, de fazer diferença, somente porque algo não lhes atinge de modo direto ou não lhes interessa.
Há muitas maneiras de nos envolvermos com os problemas à nossa volta, quer seja a nossa casa, a igreja, o ambiente de trabalho, ou o mundo. Podemos fazer o que está ao nosso alcance, às vezes denunciando, outras exigindo mudanças, ou esforçando-nos quando a situação o exigir.
Podemos também nos utilizar do poder da oração e suplicar a Deus por cada situação, pois “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos”. Mas isso só é efetivo quando nos colocamos à disposição para sermos usados por Deus. Pois quem serve a Deus e ora vai sempre poder dizer: Isso tem tudo a ver comigo!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Comentário
Iara
Assim mesmo!