“Deixe-me ver sua língua” – foi a primeira coisa que o médico disse a um importante político e famoso falastrão, que estava sentado à sua frente no consultório. Sabe-se que, frequentemente, algumas enfermidades podem ser diagnosticadas apenas olhando a boca e a aparência da língua de uma pessoa. Foi o que pensou o paciente de primeira. Depois de um tempo de observação da língua, o médico disse: “Há alguns problemas sérios. Mas lhe recomendo apenas um remédio, que certamente atenuará os danos”. Aliviado, o politico disse: “Só um remédio, doutor? Ainda bem, será mais barato assim…” – ao que foi interrompido pelo médico: “Prudência! É o remédio, que não se encontra em farmácia, e lhe custará muitíssimo. Fale menos e faça mais! E sua vida será mais saudável”.
Tal diagnóstico nos leva a pensar que meras palavras – proferidas inocentemente ou ditas de modo malicioso – podem causar danos enormes, exatamente por falta de prudência no falar. Uma língua solta e irresponsável pode arruinar negócios, macular reputações ou destruir os relacionamentos mais fortes. Isso nos fala do imenso poder que a língua tem. Mas o conselho vem a calhar: falar menos e fazer mais produz melhores frutos na vida. Tanto que o sábio Salomão afirmou: “A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto” (Pv 18.21).
O atual governo, mesmo tendo menos de dois meses de atuação, tem provado dos efeitos do poder da língua, para o bem e para o mal. Talvez mais para o mal. Muito palavreado e pouca produção. Pode-se perdoar a pouca produção, exatamente porque ainda está se articulando, planejando, estabelecendo metas etc. Mas o chamado “fogo amigo” de línguas imprudentes tem sido o principal inimigo do governo, levando-se em conta a quase falência e desarticulação da desorientada oposição. Os muitos tropeços já podem ser colocados na conta de “línguas indomáveis” de imprudentes falastrões.
Tiago disse: “Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo”. E acrescentou que, para isso, é preciso dominar primeiro a língua (Tg 3.2-8). Nesse texto, ele foi claro e incisivo em sua advertência quanto ao poder da língua, mostrando que é mais fácil controlar um cavalo, dirigir um enorme navio e domar todos os tipos de “feras, de aves, de répteis e de seres marinhos” do que controlar a língua. E Tiago mostra a razão disso: “Ora, a língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno”.
A língua pode mostrar o estado de saúde do corpo. Mas também, em termos de saúde da alma, isso é ainda mais verdadeiro, pois a maneira de falar de uma pessoa revela o que se passa em seu interior. Foi por isso que Jesus falou: “A boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12.34).
A maneira como utilizamos a língua revela muito sobre nós. Nossas palavras mostram educação e refinamento, ou a falta dessas qualidades. Os assuntos que gostamos de discutir apontam nossos interesses principais na vida, pois revelam que falamos sobre as coisas que mais amamos.
Algumas pessoas se acham muito religiosas, mas ninguém contou isso para suas línguas. A esses Tiago diz: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã” (Tg 1.26).
Se alguém deseja manter a língua sob controle, comece por fazer a oração do salmista: “Põe guarda, Senhor, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios” (Sl 141.3). E diga a si mesmo: Seja prudente! Fale menos e faça mais!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém