A vida nos impõe valores que precisamos aprender desde cedo, para sermos bem-sucedidos em nossos empreendimentos e podermos, assim, usufruir de seus benefícios. Ou então, caso contrário, será tarde demais.
Lembro-me da história de um cirurgião, empresário dono de hospitais e clínicas. Sua dinâmica de vida o tornou ocupadíssimo e fez com que trabalhasse demais, vindo a sofrer um derrame. Ele foi aconselhado a se retirar para um lugar de lagos, para ter na pesca uma terapia ocupacional, o que lhe ajudaria na recuperação. Ali, contratou um pescador da região para ajudá-lo. No lago, o peixe não beliscava a isca do médico, de modo que ele nada fisgava. Mas o pescador lançava o anzol e logo pegava peixe. Então o médico e o pescador travaram o seguinte diálogo:
– Você é tão bom! Por que você não monta uma empresa de pesca? – indagou o médico.
O pescador respondeu: – Para quê?
– Para estocar, abastecer o mercado e vender o produto.
– Para quê?
– Para ficar rico e ter muitas coisas.
– Para quê?
– Para gozar os prazeres da vida, relaxar, tirar férias e pescar – insistiu o médico.
O pescador, observando o estado de saúde do médico e, fitando-o bem olhos-nos-olhos, disse:
– Eu já tenho tudo de que preciso para ser feliz, doutor, sem passar por todo esse problema pelo qual você passou.
O médico passou um longo tempo pensativo sobre os valores que a vida tentou lhe ensinar, mas que ele não aprendera por estar ocupado demais para ouvir seus conselhos.
A lição que fica desse exemplo simples é que algumas pessoas permanecem imersas na simplicidade e não sabem avançar; outras se tornam densas de sofisticação e não sabem retornar.
De fato, chega um tempo em que temos de pensar a respeito do valor que damos às coisas e às pessoas. Não em termos monetários, mas em seu valor intrínseco e no que a sua conquista representa para nós. É quando sentimos a necessidade de olhar para trás e tomar atenção para o rastro que deixamos. Nessa hora, a própria vida cobra uma resposta: O que realmente valeu a pena viver?
O que mais vale a pena em termos de experiências de vida são aquelas situações sobre as quais dizemos de alma limpa: “Eu faria tudo de novo”. Nada a retocar, nada a acrescentar. Infelizmente, alguns só saberão valorizar o que tinham quando perderem-no.
Alguns, por não pensarem a partir do valor das pessoas, e sim das coisas, sacrificam tudo o mais para obter o que chamam de “sucesso” – que na verdade é sinônimo de fama, dinheiro, prazer, poder etc. Ao focarem o ter e não o ser, talvez seja tarde demais quando o buraco existencial cobrar a sua conta e faltarem amigos, família, amor e paz.
Esses paradoxos e incongruências da vida são uma arapuca emocional que a muitos aprisiona. Vão longe demais, perdem o que podiam ter conservado, depois gastam tudo o que têm para obter o que já tinham e perderam. Ou seja, o preço pago é muito maior, mas sem obterem as condições mínimas de refazer a vida.
Ao fazermos um balanço, descobrimos que se a felicidade realmente existe, finda estando nas coisas simples e ao alcance de todos, não nas sofisticações que terminam por frustrar a maioria, pois são privilégio de poucos. Isso confunde a sociedade, pois quando a vida é encaminhada em função da filosofia do ter para ser – e não o oposto: ser para ter – talvez só tardiamente descubramos que, por não termos sido o que devíamos ser, não valeu a pena ter tido.
Desse modo, fica claro que naquilo em que é focado o nosso interesse está a matriz que vai dizer o real valor que temos dado ao que nos cerca. Tal como disse Jesus: “Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21).
Um dos principais valores vida nos ensina é este: seja o melhor que você pode ser, descubra um propósito pelo qual viver, e faça sempre o seu melhor em tudo. E então você terá não somente motivos para se alegrar, mas, principalmente, usufruir em paz e com saúde o que a vida tem de melhor.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém