O sábio Salomão disse: “O ódio provoca dissensão, mas o amor cobre todos os pecados” (Provérbios 10.12). Porque, entre o amor e o ódio, uma escolha é necessária. Principalmente no mundo de hoje eivado de polarizações conceituais, de ismos excludentes, de politizações antagônicas, enfim, de pessoas que são óleo e pessoas que são água.
Salomão sabia o que estava falando, em observar a vida e o comportamento das pessoas. Sabia que o ódio provoca dissensão, ou seja, falta de entendimento, divergência acirrada de opiniões, disputa insana, litígio, desavença, desarmonia, desunião, divisão, inimizade, contrariedade, cisão; enfim, um caldo de sentimentos autodestrutivos e aniquiladores de relações sociais.
A amor cobre todos os pecados. Numa sociedade adoecida de pecados mil, só isso se precisa saber do amor. O cobrir do amor é tolerância, empatia; jamais aderência ou conivência.
Como não dá para banir o ódio nem a todos encher de amor, que se decida pela proporção entre este e aquele.
Mais amor, menos ódio! Grita a consciência coletiva. Mas muitos nem sabem por que gritam. Alguns nada sabem do amor e não querem saber, uma vez que gritar é a sua sina, porque sempre gritam por tudo, oh! insalubre militância. Outros, se o soubessem, não gritariam, porque nada querem pagar do preço que o amor cobra. E quem sabe o que é o amor, apenas o vive, sem precisar gritar, e o seu dom frutifica em todo lugar.
Menos ódio, pois este é autodestrutivo. As brigas que o rancor traz não causam efeitos danosos apenas em quem é atingido por ele, macula também, e principalmente, a alma de quem o sente.
Mais amor, porque através dele nasce não apenas um novo mundo, mas também uma nova humanidade. O poder criativo do amor é suficiente para transformar a trajetória de morte que guia a história da humanidade, e também estabelecer o tempo de vida e sua abrangência.
Menos ódio; a persistência da raiva que maquina o mal contra o outro é veneno para a alma que a encerra. Quem odeia o outro acumula podridão dentro de si; e desse poço vil só brota mais sujeira e pecado.
Mais amor; porque o poder restaurador do amar é algo supremo. Graças ao amor, feridas antigas são curadas, amarguras na alma são finalizadas, o perdão é vivenciado, o propósito da vida é reencontrado, a própria vida é estendida, a verdade é restabelecida, e a graça de Deus é experimentada em sua extensão transformadora. Quem ama experimenta o privilégio de viver – ainda que apenas por alguns instantes – o mais próximo possível da glória de Deus. E quem ama, na verdade, procede de Deus, porque Deus é amor!
A monstruosidade daquilo em que o pecado nos tornou revela-se na experiência desditosa do ódio. A malignidade do ódio revela sobre o outro mais ódio ainda. O amor, ao contrário, esconde as falhas dos outros para nós, e oculta as nossas falhas para os outros, revelando assim a melhor versão possível dos outros e de nós mesmos.
Embora aqui contrapostos, por necessidade de aplainar os caminhos da vida, na verdade, ódio não é o antônimo de amor. Porque o avesso do amor é a indiferença. O ódio não é apenas disruptura de todo o bem, é a própria morte. E os contrapomos aqui porque a sua malignidade fica absolutamente patente diante da benignidade do amor, principalmente porque o fruto do amor é a própria vida.
Portanto, menos ódio; pois quem odeia perde-se na condição humana mais decadente e abjeta, morrendo enfatuado e vítima de seu próprio veneno.
Portanto, muito mais amor; pois quem ama encontra-se carinhosamente abrigado nos braços do Pai, de onde emana amor sem fim; e isso, somente isso, é que basta a uma alma sedenta de sentido e consciente de sua própria carência de Deus.
Viva o amor e faça a vida valer a pena. Viva a salvação que o amor produz!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém