Avalie a cena: você está dirigindo calma e seguramente, mas, de repente, ao olhar pelo retrovisor, observa um veículo ziguezagueando no meio do tráfego. Ele se aproxima, corta sua frente, passa por dois outros carros pela direita, faz uma curva bem fechada pela esquerda, derrapando e inclinando-se, mas se ajusta e ultrapassa perigosamente quatro caminhões em comboio, depois dá uma freada brusca e pega uma pista lateral e some de sua vista. Por pouco não acontece um acidente. O que você diria ao motorista nessa hora, se o encontrasse?
A maioria de nós iria querer dizer “poucas e boas” para aquele “irresponsável”. Você certamente repassaria em sua mente tudo o que diria a ele, uma lição de moral daquelas! E se coubessem alguns xingamentos, se o motorista não fosse mais forte, você lhe diria cobras e lagartos?! Bem, não diga… nem pense!
Isso, ao fim e ao cabo, poderia sair do controle e dar em uma coisa bem ruim de descrever. Como muitas vezes acontece, com resultado de brigas e mortes, envolvendo pessoas que nem se conhecem e jamais se viram, mas tiveram essa única oportunidade de interagir no ambiente hostil de um trânsito agitado e perigoso, algo comum em nosso tempo.
Como devemos lidar com esse tipo de coisa?
Especialistas (sempre eles!) nos aconselham a ser “filosóficos” e “proverbiais”, em tomar princípios do senso comum e da sabedoria popular, e repeti-los para nos manter calmos. “Brigar não adiante, releve e passe adiante”; “respire fundo e mantenha a calma”; “ele está plantando e vai colher, deixe isso pra lá”; “não vale a pena repreender ao tolo e irresponsável” – são algumas das verdades que podemos dizer enquanto vamos nos acalmando. De fato, isso pode ajudar; pelo menos evitará mais uma briga, não somente no trânsito, mas em qualquer outra situação; ou não nos deixará agitados e com a pressão elevada. Já é uma boa coisa.
Aqueles que creem em Jesus, porém, têm uma opção adicional e efetivamente melhor. Podemos orar, tanto pelo motorista irresponsável como por nós mesmos, principalmente. Porque se nós orarmos e mudarmos o nosso interior, teremos condições de mudar também o exterior.
Mudou dentro, mudou fora. Este é um princípio do Evangelho de Cristo que realmente funciona. Quando eu oro por uma situação, me habilito a ser um canal da resposta de Deus para ajudar a resolvê-la. Quando eu oro por alguém, o Senhor me concede um espírito favorável àquela pessoa, dando-me disponibilidade para ajudar. Quando eu oro por um irresponsável no trânsito ou noutra situação difícil, uma pessoa que eu nem conheço, Deus pode me dar uma oportunidade de ajudar tal pessoa, ou outra nas mesmas condições, ou simplesmente me manterá calmo e seguro para seguir em frente incólume.
Princípios são leis espirituais imutáveis e eternas, que valem em qualquer lugar, agem sobre qualquer pessoa, funcionam em qualquer tempo, e podemos verificar sua efetividade especialmente em momentos de adversidade e conflito. Outros dois princípios são também necessários, depois de orar:
Coloque-se no lugar da outra pessoa. Você não sabe se aquele motorista está sob a enorme pressão de prestar socorro a alguém em levando-a ao hospital. Pensar assim criará dentro de você o sentimento de empatia que o levará a agir com longanimidade e misericórdia. Em todo caso, se a pessoa é apenas mal-educada e grosseira, interceder por ela criará as condições para que ela mude ou que você a ajude, ou as duas coisas.
Vença o mal com o bem. Se você responder à malignidade de alguém, no mínimo se tornará seu igual. Dar a outra face em não reagir ao perverso não significa ser fraco, mas é a fortaleza da mansidão que restringirá o poder dele sobre você. Se for o caso, faça o bem a quem intentou o mal contra você; isso no mínimo o envergonhará, ou ajudará na sua mudança. Em suma: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.21).
Siga os ensinos de Jesus e mude primeiro; porque, se mudou dentro, mudará fora.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém