O médico neurologista judeu Sigmund Freud, criador da psicanálise, assegurava que o ser humano, se reduzido à mais extrema privação, perderia definitivamente seu envelope de espiritualidade e demonstraria sua verdadeira natureza, comportando-se então como um verdadeiro bicho. O psiquiatra judeu Viktor Frankl, por outro lado, discordava frontalmente dessa teoria freudiana, embora não tenha precisado de grandes exercícios psicológicos para produzir uma resposta ao colega.
O fato é que Viktor Frankl, durante a Segunda Guerra Mundial, foi feito prisioneiro no campo de concentração de Theresienstadt (hoje, parte da República Tcheca), e lá veio a descobrir, na prática, como homens e mulheres habitualmente medíocres, agora reduzidos às piores condições de miséria e pavor, se elevaram à dimensão de heróis caridosos, quando se mostraram capazes de gestos extremos de autossacrifício e generosidade. Eles agiram pela simples convicção de fazerem o bem “sem olhar a quem”, contudo, sem esperarem uma recompensa; apenas porque achavam que aquilo era o certo a ser feito.
O que Viktor Frankl descobriu em Theresienstadt mudou sua visão de mundo. Lá ele descobriu que o ser humano não é movido apenas pelo desejo de obter prazer ou pela vontade de exercer poder; mas que existe uma força motivadora maior e muito mais intensa: a “fome de sentido”. Ou seja, para ele, o ser humano poderia suportar qualquer situação extrema, mas sucumbiria se lhe subtraíssem o significado para a vida. Viktor Frankl dizia: “Se uma pessoa tem um porquê, pode finalmente suportar todos os comos da vida”. Se uma pessoa não sabe o porquê de viver neste mundo, tudo o que sobra é uma neurose irreversível, um sofrimento psíquico marcado pelo sentimento de vazio moral e espiritual (ausência de valor) e absurdo.
Há pessoas que, submetidas a condições de extrema penúria e pavor, podem se transformar em bichos sem razão. Mas isso não é uma generalidade; pode até ser uma fatalidade para alguns. Todavia, muitos homens e mulheres, a despeito dos maus tratos e injustiças que a vida lhes impõe, podem, pela graça de Deus, finalmente encontrar sua razão de viver; e deixam brotar de seus espíritos uma motivação abençoadora que tem o condão de transformar tudo ao seu redor, por causa da bondade e generosidade para com o próximo. E tudo começa com a descoberta de um significado para a vida.
A Bíblia traz muitas narrativas sobre pessoas comuns que suportaram os mais bárbaros, injustos e ignominiosos tratamentos, “os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra” (Hb 11.33-40).
O que os diferenciava dos demais mortais é que todos estes tinham uma razão para viver: a esperança em Cristo!
Um sentido para a vida elevou meros mortais à condição de santos e heróis em um campo de concentração. E aqueles que têm sua razão de viver em Cristo, por Cristo e para Cristo, viverão por toda a eternidade a plenitude da vida na glória do Pai Eterno.
SAMUEL CÂMARA
Pastor da Assembleia de Deus em Belém